3 de mar. de 2014

Ciência, Arte e Magia

Um dos elementos fundamentais e, talvez, mais misteriosos da música é a melodia. O que realmente faz com que determinadas melodias nos despertem tantos sentimentos diferentes? 

Por que há melodias boas e outras não? O que faz uma boa melodia? Livros, tentando explicar isso, não faltam, mas de fato, nem teóricos, nem os músicos, nem compositores souberam responder a essa pergunta de maneira satisfatória.

Inconscientemente, através dos nossos ouvidos, conseguimos distinguir uma melodia que nos agrada ou não. Talvez, nosso padrão melódico se desenvolva a partir daquilo a que nos habituamos ouvir desde criança. Mas não se tem certeza. A melodia nos prende a certas músicas, algumas grudam em nossos ouvidos, outras nos comovem e outras mais têm o poder misterioso de nos elevar espiritualmente, mas há, de fato, uma “fórmula” pronta para isso?

Alguns teóricos, ao tentarem explicar a “fórmula” da quinta sinfonia de Beethoven, descreveram todo o padrão composicional utilizado pelo mesmo. Com isso, há centenas de compositores que estudaram, com afinco, e utilizaram esses mesmos “padrões” em suas sinfonias, no entanto quantas sinfonias são efetivamente tão “brilhantes” como a quinta de Beethoven?

Como bem sabemos a música também possui o poder de curar certas doenças. Existem inúmeros trabalhos clínicos, realizados em várias áreas, dos quais citamos apenas alguns como: paralisia cerebral, amputações, distrofia muscular progressiva, doenças mentais, autismo infantil, problemas neurológicos e, até mesmo, na área social, com trabalhos envolvendo músicos, crianças e adolescentes carentes. 

Além disso, pesquisas comprovam que ouvir certas músicas ativa os neurônios e melhora a inteligência. Exames de tomografia e ressonância magnética mostraram que ouvir música ativa uma ampla distribuição de áreas do cérebro. Isso porque, ritmos, tons, batidas, melodias e timbres são processados ​​em muitas áreas diferentes do cérebro. 

Albert Einstein, grande gênio da física, era um grande admirador de Mozart, e não eram poucas as vezes que refletia sobre seus dilemas tocando as obras do grande compositor ao violino. Seria a música de Mozart uma espécie de alimento para a genialidade de Einstein?

Alguns estudiosos chamam isso de “Efeito Mozart”, mas será que apenas a música de Mozart é capaz de despertar este fenômeno? Provavelmente não, pois o efeito em questão é resultado da excitação causada pela música e não necessariamente do compositor em questão.

Seja efeito Mozart, musicoterapia, ou qualquer outro nome que se dê a esse fenômeno, está comprovado que a música, em seus diversos graus, cria uma “mudança” ou um determinado “estado psicológico” em nosso ser. Não seria esse o motivo de a música, antigamente, ser reservada apenas a iniciados e mestres?

Pitágoras, Sócrates e Platão, bem sabiam que o estudo da música era uma das mais belas disciplinas para o espírito e consideravam-na indispensável à educação. Isto porque a música, em si, lida com duas áreas que parecem divergir: a ciência e a espiritualidade.

Johannes Kepler uniu ciência, música e espiritualidade, quando, seguindo o princípio “Música das Esferas”, proposto por Pitágoras, publicou, em 1619, um livro chamado “Harmonia do Mundo”. Nele, Kepler relaciona o universo, as proporções geométricas e o movimento dos planetas com as proporções harmônicas da música, demonstrando que matemática, música e magia, caminham lado a lado.

Se considerarmos a definição de magia como um meio através do qual a vontade, a emoção e a imaginação criam uma mudança verdadeira no mundo físico, um compositor não poderia ser classificado como um mago?
"Existe alguma confusão sobre o que é realmente mágico. Acho que isso pode ser esclarecido olhando para as descrições mais antigas da magia. Esta, em suas formas mais primitivas, é, normalmente, designada como “arte”. Acho que isso é bastante literal. Eu acredito que magia é arte e que a arte, quer a escrita, a música, a escultura ou qualquer outro meio é literalmente magia. A arte é, como magia, a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens para realizar mudanças na consciência." (Alan Moore)
De um modo geral, a música continua sendo um fenômeno que a ciência não soube explicar e isso a torna ainda mais fascinante. Entretanto, sabemos que a Música é capaz de gerar mudanças dinâmicas e permanentes na consciência individual e coletiva. Essas mudanças provêm de combinações de frequências e de arranjos que ressoam da mesma forma para o físico e para o metafísico.

Mas por que a música é tão mágica? Por que os estados de consciência mais profundos são atingidos através do canto ou durante a emissão de certos padrões musicais? A resposta mais antiga e duradoura é que a música é um eco do impulso da criação divina.

Autoria: Fabio Almeida

Um comentário:

  1. Fabio, querido amigo e já um gigante quento à percepção das artes. Quando o conheci, já sabia o tamanho da pedra, só desconhecia o diamante em que está se transformando.
    Agora, falando sobre música, realmente no sentido filosófico e antropológico poucos sabem explicar.
    Creio eu, como um pretenso musicista, que a música, seja a forma mais completa de traduzir, provocar e atingir nossos mais profundos sentimentos.
    A sonoridade traz imagens mentais e sensações em toda sua totalidade.
    Muito obrigado pela excente iniciativa e pesquisa que fizeste.
    Só para complementar, quando o irmão fala sobre o que apreciamos ou somos fadados a apreciar melodicamente, atribuindo isto ao que aprendemos ouvir desde crianças, vejo então a responsabilidade das mídias em nos tornar melhores ouvintes e por consequência, melhores cidadãos.
    "A dificuldade em aprender uma nava língua, está diretamente ligada a formação de nosso palato pelos fonemas da mesma".
    Parabéns pelo empenho em proporcionar a nós mais conhecimento.
    Ir.'. Ricardo Osinski

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